Caridade divulgação

sábado, 9 de novembro de 2013

A CHAMA DA LAMPARINA - O SEGREDO DA RIQUEZA

Havia um rei que, apesar de ser muito rico, tinha a fama de ser um grande doador, desapegado de sua riqueza. De uma forma bastante estranha, quanto mais ele doava ao seu povo, auxiliando-o, mais os cofres do seu fabuloso palácio se enchiam.

Um dia, um sábio que estava passando por muitas dificuldades, procurou o rei. Ele queria descobrir qual era o segredo daquele monarca.

Como sábio, ele pensava e não conseguia entender como é que o rei, que não estudava as sagradas escrituras, nem levava uma vida de penitência e renúncia, ao contrário, vivia rodeado de luxo e riquezas, podia não se contaminar com tantas coisas materiais.

Afinal, ele, como sábio, havia renunciado a todos os bens da Terra, vivia meditando e estudando e, contudo, se reconhecia com muitas dificuldades na alma. Sentia-se em tormenta. E o rei era virtuoso. E amado por todos.

Ao chegar em frente ao monarca, perguntou-lhe qual era o segredo de viver daquela forma. Sua majestade lhe respondeu:

Acenda uma lamparina e passe por todas as dependências do palácio e você descobrirá qual é o meu segredo. Porém, há uma condição. Se você deixar que a chama da lamparina se apague, cairá morto no mesmo instante.

O sábio tomou de uma lamparina, acendeu e começou a visitar todas as salas do palácio. Duas horas depois voltou à presença do rei, que lhe perguntou:

Você conseguiu ver todas as minhas riquezas?

O sábio, que ainda estava tremendo, por conta da experiência, porque temia perder a vida se a chama apagasse, respondeu:

Majestade, não vi absolutamente nada. Estava tão preocupado em manter acesa a chama da lamparina que só fui passando pelas salas, e não notei nada.

Com o olhar cheio de misericórdia, o rei contou o seu segredo:

Pois é assim que eu vivo. Tenho toda minha atenção voltada para manter acesa a chama da minha alma que, embora tenha tantas riquezas, elas não me afetam. Tenho a consciência de que sou eu que preciso iluminar meu mundo com minha presença e não o contrário.

* * *

O sábio representa, na história, as pessoas insatisfeitas, aquelas que dizem que nada lhes sai bem. Vivem irritadas e afirmam ter raiva da vida.

O rei representa as criaturas tranquilas, ajustadas, confiantes. Criaturas que são candidatas ao triunfo nas atividades a que se dedicam. São sempre agradáveis, sociáveis e estimuladoras.

Quando se tornam líderes são criativas, dignas e enriquecedoras.

Desse último grupo fazem parte os que promovem o desenvolvimento da sociedade, os gênios criadores e os grandes garimpadores da verdade.

* * *

Com ligeiras variações, é sempre o lar que responde pela felicidade ou a desgraça da criatura. É o lar que gera as criaturas de bem ou os candidatos à perturbação.

É na infância que o Espírito encarnado plasma a sua escala de valores que lhe orientará a vida.

Por tudo isso, o carinho na infância, o amor e a ternura, ao lado do respeito que merece a criança, são fundamentais para a formação de homens saudáveis, ricos de beleza, de bondade, de amor, que influenciam positivamente a sociedade onde vivem.

Em nossas mãos, na qualidade de pais, repousa a grande decisão: como desejamos que sejam os nossos filhos: tranquilos como o rei ou atormentados como o sábio?



Redação do Momento Espírita, com base no livro A paz
começa com você, de O’Donnel, ed. Gente e no cap. 3, do livro
Momentos de consciência, pelo Espírito Joanna de Ângelis,
psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.
Em 8.11.2013.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O DIA DE FINADOS

Os mortos vivem
A comemoração dos mortos, hoje denominada Dia de Finados, tem origem na antiga Gália, no território europeu.

É comum no dia de hoje a intensa visitação aos túmulos. E se observam cenas interessantes. Existem os que se sentam sobre os túmulos dos seus amados, e ali passam o dia.

Para lhes fazer companhia. Como se, em verdade, eles ali estivessem encerrados.

Outros lhes levam comidas e bebidas. Para que se alimentem. Como se o Espírito disso necessitasse.

Outros ainda gastam verdadeiras fortunas em flores raras e ornamentações vistosas. Decoram o túmulo como se devesse ser a morada do seu afeto.

Tais procedimentos podem condicionar o Espírito, se não for de categoria lúcida, consciente, mantendo-o ligado aos seus despojos, ao seu túmulo.

Como cristãos, aprendemos com Jesus que a morte não existe. Assim, nossos mortos não estão mortos, nem dormem.

Cumprem tarefas e distendem mãos auxiliadoras aos que permanecem no casulo carnal.

Prosseguem no seu auto-aprimoramento, construindo e reformulando o mundo íntimo, na disciplina das emoções.

E continuam a nos amar.

A mudança de estado vibratório não os furta aos sentimentos doces, cultivados na etapa terrena.

São pais e mães queridas, arrebatados pelo inesperado da desencarnação. Filhos, irmãos, esposos - seres amados.

O vazio da saudade alugou as dependências de nosso coração e a angústia transferiu residência para as vizinhanças de nossa alma.

É hora de nos curvarmos à majestade da Lei Divina e orarmos. A prece é perfume de flor que se eleva e funde abraços e beijos, a saudade e o amor.

Para os nossos afetos que partiram para o Mundo Espiritual, a melhor conduta é a lembrança das suas virtudes, dos seus atos bons, dos momentos de alegria juntos vividos.

A prece que lhes refrigera a alma e lhes fala dos nossos sentimentos.

Não há necessidade de se ter dinheiro para honrar com fervor cristão os nossos mortos. Nem absoluta necessidade de nossas presenças ao lado das suas tumbas. Eles não estão lá.

Espíritos libertos, vivem no Mundo Espiritual tanto quanto estão ao nosso lado, muitas vezes, nos dizendo da sua igual saudade e de seu amor.
* * *
Se desejas honrar teus mortos, transforma em pães e peças de vestuário para crianças e gestantes pobres as quantias amoedadas que gastarias na ornamentação dos túmulos e em flores exuberantes

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Rabindranath Tagore

Rabindranath Tagore

 De todos os poetas, este é o que mais cativa meu coração. Prêmio Nobel de Literatura, dramaturgo e contista indiano, Tagore, como artesão de versos, assemelha-se aos gênios da música. Ao ler suas poesias,  experimento a mesma estesia que alcanço ao ouvir  Chopin, Beethoveen. Hoje quero homenageá-lo, compartilhando com você, leitor, alguns de seus versos que me são mais caros.

FLOR-DE-LÓTUS

No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração. 

Comovem-me esses versos, porque fazem lembrar de uma atitude recorrente. Aqui e acolá nos deparamos com uma sensação de saudade, de angústia existencial. Esperamos que algo surja d'além para nos completar, projetamos nas coisas e nas pessoas, nas situações a paz desejada. Todavia, a flor de que sentimos falta, está bem perto de nós, é nossa. Quero dizer, não há o que vai chegar, mas a semeadura íntima que a faz desabrochar, quando nos dulcificamos. Alcançado este estágio, ela abre suas pétalas  e o  vento esparse seu perfume para além de nós, alegrando a vida daqueles que caminham conosco.


AMOR PACÍFICO E FECUNDO!

Não quero amor que não saiba dominar-se,
  desse, como vinho espumante, que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.
Dá-me esse amor fresco e puro como a tua chuva,
 
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até o centro da vida,
 
e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!
Amor pacífico e fecundo. Quantas noites ainda vivenciaremos, aprisionados em nosso sortilégios, porque ainda não conquistamos este amor que " penetra o centro da vida" e que "conserva tranquilo o coração"? Como crianças existenciais que somos, nossa forma de amar ainda é  marcada pelos caprichos do ego, pelo orgulho.
Apegados demasiadamente ao ego, cultivamos sentimentos ilusórios sobre nós mesmos e sobre outrem, julgando amar o que não se sustenta, o que " se perde no instante" e se esvai como bolhas numa taça de champagne. 
Mas a roda da vida gira, nos convidando à reflexão de nossas escolhas, a repensar nossos apegos.Cada experiência, seja de alegria ou de desilusão, preenche o cesto de nossos saberes. 

A Prisão do Orgulho  

Choro, metido na masmorra
do meu nome.
Dia após dia, levanto, sem descanso,
este muro à minha volta;
e à medida que se ergue no céu,
esconde-se em negra sombra
o meu ser verdadeiro.

Este belo muro
é o meu orgulho,
que eu retoco com cal e areia
para evitar a mais leve fenda.

E com este cuidado todo,
perco de vista
o meu ser verdadeiro.
Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões
 
Das chagas da alma, o orgulho talvez seja das mais  insidiosas. É interessante porque na base desse sentimento está uma mais valia claudicante. O orgulhoso, na verdade,  é frágil em si mesmo, não se ama. Os muros que está sempre construindo diz respeito à sensação que cultiva de que não é amado, de que as outras pessoas desejam ocupar-lhe o lugar, tomar -lhe algo. Estrutura psíquica frágil,  o orgulhoso não agrega, não compartilha, não se apraz com as vitórias dos que compartilham a existência com ele. Agrega sim, apenas com quem é acorde de suas convicções , ou melhor, equívocos. Centrado no ego infantilizado, não conhecedor de si mesmo, possui uma forma de agir competitiva e  não é capaz de ver o outro, a dimensão dos outros. 
É muito difícil conviver com pessoas assim. Todavia, solitário e aprisionado em seus muros psíquicos,  o orgulhoso é merecedor de profunda compaixão, pois passará ainda por grandes infortúnios, até compreender que só por meio da interação com o próximo, desapegado de suas construções mentais desalinhadas, poderá ser feliz plenamente. 
Deverá fazer, depois de  aceitar dobrar-se ao código da vida, o caminho do autoconhecimento, a fim de dar conta  de que o outro, seja quem for, é  seu irmão.
E neste dia, que será festa, seus muros  internos ruirão e permitirão a entrada da alegria que não passa.

Legendas do Obreiro da Verdade (Emmanuel)

·  Compreender que as necessidades e as esperanças dos outros são fundamentalmente iguais às nossas.

·  Auxiliar sem exigir que o beneficiado nos tome as ideias.
·  Reconhecer que a Divina Providência possui estradas inúmeras para socorrer as criaturas e iluminá-las.
·  Aprender a tolerar com paciência as pequenas humilhações, a fim de prestar os grandes testemunhos de sacrifício pessoal que a Causa da Verdade lhe reclamará possivelmente algum dia.
·  Esquecer-se pela obra que realiza.
·  Guiar-se pela misericórdia e não pela crítica.
·  Abençoar sem reprovar.
·  Construir ou reconstruir, sem ofender ou condenar.
·  Trabalhar sempre sem o propósito de ser ou parecer o maior ou o melhor ante os demais.
·  Cultivar ilimitadamente a cooperação e a caridade.
·  Coibir-se de irritação e de azedume.
·  Agir sem criar problemas.
·  Observar que sem a disciplina individual no campo do bem, a prática do bem se faz impossível.
·  Respeitar a personalidade dos companheiros.
·  Encontrar ocasião para atender à bênção da prece.
·  Deter-se nas qualidades nobres e olvidar as prováveis deficiências do próximo.
·  Valorizar o esforço alheio.
·  Nunca perder tempo.
·  Apagar inimizades ou discórdias através da desculpa fraterna e do serviço constante que devemos uns aos outros.
·  Criar oportunidades de trabalho para si, ajudando aos outros no sentido de descobrirem as oportunidades de trabalho que lhes digam respeito à capacidade e às possibilidades de realização, conservando em tudo a certeza inalterável de que toda pessoa é importante na edificação do Reino de Deus.

Indulgência Permanente

    Escasseia, cada vez mais, no comportamento humano, a indulgência.

    Relevante para o êxito da criatura em si mesma e em relação ao próximo, o pragmatismo negativo dos interesses imediatos vem, a pouco e pouco, desacreditando-a, deixando-a à margem.

    Sem a indulgência no lar, diante das atitudes infelizes dos familiares ou em referência aos seus equívocos, instala-se a malquerença; na oficina de atividades comerciais, produz a desconfiança; no trato social propicia o desconforto moral e responde pelo competição destrutiva.. .

    Tentando substituí-la, as criaturas imprevidentes colocam nos lábios a mordacidade no trato com o semelhante, a falsa superioridade, a ofensa freqüente, a hipocrisia em arremedos de tolerância.

    indulgência para com as faltas alheias é perfeita compreensão da própria fragilidade, a refletir-se no erro de outrem, entendendo que todos necessitam de oportunidade para recuperar-se, e facultando-a sem assumir rígido comportamento de censor ou injustificável postura de benfeitor.

    indulgência é um sentimento de humanidade que vige em todas as pessoas, aguardando desdobramento e vitalidade que somente o esforço de cada qual logra realizar.

    É calma e natural, fraterna e gentil, brotando como linfa cristalina alcance do sedento.

    Generosa, não guarda qualquer ressentimento, olvidando as ofensas a benefício do próprio agressor.

    indulgência é um ato de amor que se expande e de caridade que se realiza.

    Mede-se a conquista moral de um homem pelo grau de indulgência que possui em relação aos limites e erros alheios.

    Ninguém que jornadeie, no mundo, sem errar e que, por sua vez, não necessite da indulgência daqueles a quem magoa ou contra os quais se levanta.

    indulgência pacifica o infrator, auxiliando-o a crescer em espírito e abre áreas de simpatia naquele que a proporciona.
    Virtude do sentimento, a indulgência revela sabedoria da razão Agredido pela ignorância do poviléu, ou pela astúcia farisaica, ou pela covardia dos amigos, ou pela pusilanimidade de Pilatos, Jesus foi indulgente para com todos, não obstante jamais houvesse recebido ou necessitasse da indulgência de quem quer que fosse.

    Lecionando o amor, toda a Sua vida é um hino à indulgência e uma oportunidade de redenção ao equivocado.

    Sê, pois, tu também, indulgente em relação ao teu próximo, quão necessitado te encontras da indulgência dos outros assim como da Vida.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

TELHADO DE VIDRO - por Richard Simonetti


Em uma de suas viagens a Jerusalém (João, 8:1-11) Jesus compareceu ao Templo. Transmitia suas lições a expressivo grupo de ouvintes, quando surgiram alguns escribas e fariseus. Apresentaram uma mulher, explicando: 
– Mestre, esta mulher foi surpreendida em adultério. Moisés ordenou-nos na Lei que seja apedrejada. Tu, pois, o que dizes?
Grave acusação, com base em dois dispositivos da Lei Mosaica:
Em Levítico (20:10): Se um homem cometer adultério com a mulher de seu próximo, ambos, o adúltero e a adúltera, certamente serão mortos.
Em Deuteronômio (22:22): Se um homem for achado deitado com uma mulher casada, ambos serão mortos…
A legislação mosaica era draconiana. A execução, não raro, envolvia a lapidação. O condenado postava-se à frente do povo, que passava a atirar-lhe pedras, até sua morte. 
Povo machista, os rigores da Lei eram sempre para a mulher, em questões de fidelidade conjugal, tanto que nesta passagem somente ela estava sendo acusada, embora o flagrante, obviamente, envolvesse seu parceiro.
Havendo suspeita de adultério, por parte do marido, a esposa era submetida ao ordálio, o juízo de Deus. Era o seguinte:
Diante de um sacerdote, era obrigada a beber nauseante poção. Se lhe causasse intenso mal estar, com incontrolável regurgitação, era proclamada culpada e condenada ao apedrejamento. Se resistisse, seria absolvida.
A segunda hipótese dificilmente ocorria. A poção era forte, e ainda não existia o sonrisal.

Escribas e fariseus estavam mal intencionados. 
Submetendo a adúltera a Jesus, prepararam a armadilha perfeita, infalível. Qualquer que fosse sua resposta estaria comprometido, lembrando o adágio: Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
Se não a condenasse, estaria contestando Moisés. Falta grave. Seria apontado como traidor.
Se a condenasse, perderia a aura de bondade, o maior obstáculo à intenção de situá-lo como iconoclasta, destruidor do culto estabelecido.
O Mestre não se abalou. Sentado à maneira oriental, escrevia na areia, como se meditasse. Após momentos de eletrizante expectativa, pronunciou seu imorredouro ensinamento.
– Aquele dentre vós que está sem pecados, atire a primeira pedra.
Fosse outra pessoa e, imediatamente, escribas e fariseus, acompanhados pelo povo, desandariam a fazê-lo. Com Jesus era diferente. Dotado de incontestável autoridade espiritual, tinha pleno domínio da situação.
Pesado silêncio fez-se sentir. Ante a força moral daquele homem que devassava suas mazelas, ninguém se sentia autorizado a iniciar a execução.
Pouco a pouco, dispersou-se a multidão, começando pelos mais velhos, até chegar aos mais moços. Em breve, Jesus estava sozinho com a adúltera. Perguntou-lhe, então:
– Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?
– Ninguém, senhor.
– Nem eu tampouco te condeno. Vai e não peques mais.
Nesta passagem vemos uma vez mais a extraordinária lucidez de Jesus, ágil no raciocínio, a confundir seus opositores, e ainda aproveita o ensejo para ensinamento basilar:
Ninguém é suficientemente puro para habilitar-se a julgar as impurezas alheias.
Essa ideia é marcante no ensinamento cristão. Jesus situa como hipócritas os que não enxergam lascas de madeira em seus olhos e se preocupam com meros ciscos em olhos alheios.
Observam falhas mínimas no comportamento dos outros. Não encaram gritantes defeitos em si mesmos.
Há em relação ao assunto curiosa situação: Vemos nos outros algo do que somos.
O preconceituoso presume-se discriminado.
O maledicente imagina maldades.
O malicioso fantasia segundas intenções.
Projetamos no comportamento alheio algo de nossas próprias mazelas. Assim, o mal está em nós mesmos.
Quem estuda as obras de André Luiz percebe claramente que os Espíritos orientadores jamais usam adjetivos depreciativos.
Não dizem:
– Fulano é um cafajeste, um vagabundo, um pervertido, um mau caráter, um criminoso, um monstro…
Veem o irmão em desvio, o companheiro necessitado de ajuda, o enfermo que precisa de tratamento…
Consideram que todo julgamento é assunto para a Justiça Divina. Só Deus conhece todos os detalhes. 
Mesmo quando lidam com obsessores, tratam de socorrê-los sem críticas, situando-os como irmãos em desajuste.
Faz sentido! 
Somos todos filhos de Deus. Fomos criados para o Bem. O mal em nós é apenas um desvio de rota, um equívoco, uma doença que deve ser tratada.

A fórmula para essa visão tem dois componentes básicos:
A intransigência e a indulgência.
Pode parecer tolice. Afinal, são atitudes antagônicas.
Mas é simples:
Devemos ser intransigentes conosco.
Vigiar atentamente nossas ações; não perdoar nossos deslizes; criticar nossas faltas, dispondo-nos ao esforço permanente de renovação. É o despertar da consciência.
Devemos ser indulgentes com os outros.
Evitar o julgamento, a crítica e as más palavras; respeitar o próximo, suas opções de vida, sua maneira de ser.
É o despertar do coração.
Quando aplicamos essa orientação, ocorre algo muito interessante. Quanto mais intransigentes conosco, mais indulgentes somos com o próximo, exercitando o princípio fundamental: Não podemos atirar pedras em telhados alheios, porquanto o n
osso é d
e vidro, muito frágil.e vidro, muito frágil.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Tempo Certo - Renovando Atitudes (Hammed)


Capítulo 17, item 5
“... Aquele que semeia saiu a semear; e, enquanto semeava, uma
parte da semente caiu ao longo do caminho...”
“... Mas aquele que recebe a semente numa boa terra é aquele que
escuta a palavra, que lhe presta atenção e que dá fruto, e rende cento, ou
sessenta, ou trinta por um.”
Na vida, não existe antecipação nem adiamento, somente o tempo propício
de cada um.
A humanidade, em geral, recebe as sementes do crescimento espiritual a
todo o instante.
Constantemente, a “Organização Divina” emite idéias de progresso e
desenvolvimento, devendo cada indivíduo absorver a sementeira de acordo
com suas possibilidades e habilidades existenciais.
A Natureza nos presenteia com uma diversidade incontável de flores, que
nos encantam e fascinam. Certamente, não as depreciaríamos apenas por
achar que vários botões já deveriam ter desabrochado dentro de um prazo
determinado por nós, nem as repreenderíamos por suas tonalidades não ser
todas iguais conforme nossa maneira de ver.
Nem poderíamos sequer compará-las com outras flores de diferentes
jardins, por estarem ou não mais viçosas. Deixemos que elas possam
germinar, crescer e florir, segundo sua natureza e seu próprio ritmo
espontâneo. Isso será sempre mais óbvio.
Parece racional que ofereçamos a quem amamos o mesmo
consentimento, porque cada ser tem seu próprio “marco individual” nas
estradas da vida, e não nos é permitido violentar sua maneira de entender,
comparando-o com outros, ou forçando-o com nossa impaciência para que
“cresçam” e “evoluam”, como nós acharíamos que deveria ser.
Cada um de nós possui diferenças exteriores, tanto no aspecto físico
como na forma de se vestir, de sorrir, de falar, de olhar ou de se expressar. Por
que então haveríamos de florescer “a toque de caixa”?
Nossa ansiedade não faz com que as árvores dêem frutos instantâneos,
nem faz com que as roseiras floresçam mais céleres. Respeitemos, pois, as
possibilidades e as limitações de cada indivíduo.
Jesus, por compreender a imensa multiformidade evolucional dos
homens, exemplificou nessa parábola a “dissemelhança” das criaturas,
comparando-as aos diversos terrenos nos quais as sementes da Vida foram
semeadas.
As que caíram ao longo do caminho, e os pássaros as comeram,
representam as pessoas de mentalidade bloqueada e restringida, que recusam
todas as possibilidades de conhecimento que as conteste, ou mesmo, qualquer
forma que venha modificar sua vida ou interferir em seus horizontes
existenciais. São seres de compreensão e aceitação diminuta ou quase nula.
São comparáveis aos atalhos endurecidos e macerados pela ação do tempo.
Outras sementes caíram em lugares pedregosos, onde não havia muita
terra, mas logo brotaram. Ao surgir o sol, queimaram-se porque a terra era
escassa e suas raízes não eram suficientemente profundas.
Foram logo ressecadas porque não suportaram o “calor da prova”; e,
por serem qualificadas como pessoas de convicção “flutuante”, torraram
rapidamente seus projetos e intenções.
Nossas bases psicológicas foram recolhidas nas experiências do ontem.
São raízes do passado que nos dão manutenção no presente para ir adiante,
nos processos de iluminação interior.
Quando os “caules” não são suficientemente profundos e vetustos, há
bloqueios tanto em nossa consciência intelectual como na emocional. Um
mecanismo opera de forma a assimilar somente o que se pode digerir daquela
informação ou ensinamento recebido.
Assim, a disponibilidade de perceber a realidade das coisas funciona
nas bases do “potencial” e da “viabilidade evolutiva” e, portanto, impor às
pessoas que “sejam sensíveis” ou que “progridam”, além de desrespeito à
individualidade, é fator perigoso e destrutivo para exterminar qualquer tipo de
relacionamento.
Os espinheiros que, ao crescer, abafaram as sementes representam as
“idéias sociais” que impermeabilizam a mentalidade dos seres humanos, pois,
no tempo do Mestre, as leis do “Torah” asfixiavam e regulamentavam não
somente a vida privada, mas também a pública.
Os indivíduos que não pensam por si mesmos acabam caindo nos
domínios das “normas e regras”, sem poder erguer em demasia a sua mente,
restrita pelas idéias vigentes, o que os sentencia a viver numa “frustração
grupal”, visto que seu grau de raciocínio não pode ultrapassar os níveis
permitidos pela comunidade.
Jesus de Nazaré combateu sistematicamente os “espinhos da opressão”
na pessoa daqueles que observavam com rigor rituais e determinações das
leis, em detrimento da pureza interior. Dessa forma, Ele desqualificou todo
espírito de casta entre as criaturas de sua época.
As demais sementes, no entanto, caíram em boa terra e deram frutos
abundantes. O que é um “solo fértil”?
Nossos patrimônios de entendimento, de compreensão e de
discernimento não ocorrem por acaso, porqüanto nenhum aprendizado nos
envolverá profundamente se não estivermos dotados de competência e
habilidades propiciadoras.
A boa absorção ou abertura de consciência acontece somente no
momento em que não nos prendemos na forma. Aprofundarmo-nos no
conteúdo real quer dizer: “Quem não quebra a noz, só lhe vê a casca”. Mas
para “quebrar a noz e preciso senso e noção, base e atributos que requerem
tempo para se desenvolverem convenientemente. A consciência da criatura,
para que seja receptiva, precisa estar munida de “despertamento natural” e
“amadurecimento psicológico”.
Reforçando a idéia, examinemos o texto do apóstolo Marcos, onde
encontramos: “porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a
espiga, e por ültimo o grão cheio na espiga”. (1)
O Mestre aceitava plenamente a diversidade humana. Ele se opunha a
todo e qualquer “nivelamento psicológico” e, portanto, lançou a Parábola do
Semeador, a fim de que entendêssemos que o melhor apoio que prestaríamos
a nossos companheiros de jornada seria simplesmente esperar em silêncio e
com paciência.
Portanto, compreendamos que a nós, somente, compete “semear”; sem
esquecer, porém, que o crescimento e a fartura na colheita dependem da
“chuva da determinação humana” e do “solo generoso” da psique do ser, onde
houve a semeadura.(1) Marcos 4:28

Sacudir o pó - Renovando Atirudes (Hammed)

... Quando alguém não quiser vos receber, nem escutar vossas
palavras, sacudi, em saindo dessa casa ou dessa cidade, o pó de vossos
pés...”
“... Assim diz hoje o Espiritismo aos seus adeptos: não violenteis
nenhuma consciência; não forceis ninguém a deixar sua crença para
adotar a vossa...”
(Capítulo 21, itens 10 e 11.)
Não nos influenciemos pelos feitos alheios. Nossas atitudes devem
realmente nascer de nossas inspirações mais íntimas, e não constituir uma
forma de “reagir” contra as atitudes dos outros.
Não permitamos que emoções outras determinem nosso modo peculiar
de pensar e agir; caminhemos sobre nossas próprias pernas, determinando
como agir.
“Quando alguém não quiser vos receber, sacudi o pó de vossos pés”. A
recomendação de Jesus poderá ser assim interpretada: não devemos impor
aos outros o constrangimento de convencê-los à nossa realidade, como se
nossa maneira de traduzir as leis divinas fosse a melhor; nem achar que a
Verdade é propriedade única, e que somente coubesse a nós a posse
exclusiva desse patrimônio.
Em muitas ocasiões, a título de aconselhar melhores opções e diretrizes,
no sentido de esclarecer e priorizar a seleção de atitudes dos outros, que, na
verdade caberia a eles próprios desempenhar, nós extrapolamos nossas reais
funções e limites, transformando o que poderia ser esclarecimento e orientação
em abuso e ocupação indevida dos valores e domínios dos indivíduos.
Sentimos necessidade de “corrigir” opiniões, “indicar” caminhos, “induzir”
experiências, privando as pessoas de exercer opções e de vivenciar suas
próprias experiências. Deixando-as cair e se levantar, amar e sofrer, estamos,
ao contrário, permitindo que elas mesmas possam angariar seus próprios
conhecimentos e, dessa forma, estruturar sua maturação e crescimento
pessoal.
“Deixar casas e cidades que não nos ouvem as palavras” é demonstrar
que não temos a pretensão de únicos possuidores da revelação divina e que,
não fosse nossa intermediação, as criaturas estariam desprovidas de outros
canais de instrução e conhecimento divino.
“Reter o pó em vossos pés” é não ter a visão da imensidade e
diversidade das possibilidades universais, que apóiam sempre as criaturas de
conformidade com sua idade astral e sempre no momento propício para seu
crescimento íntimo.
A Vida Maior tem inúmeras vias de inspiração e revelação, a fim de
conduzir os indivíduos a seu desenvolvimento espiritual; portanto, não
devemos nos arvorar em indispensáveis dignitários divinos.
Lancemos as sementes sem a pretensão de aplausos e reconhecimentos,
mesmo porque talvez não haja florescimento imediato, mas na
terra fértil dos sentimentos humanos haverá um dia em que o campo produzirá
a seu tempo.
Ao aceitarmos as pessoas como indivíduos de personalidade própria,
respeitando suas opiniões, ideias e conceitos, até mesmos seus preconceitos,
estaremos dando a elas um fundamental apoio para que escutem o que temos
para dizer ou esclarecer, deixando depois que elas mesmas, conforme lhes
convier, mudem ou não suas diretrizes vivenciais.
Talvez o servo imprudente, arraigado no orgulho, esperasse louros
dourados de consideração e entendimento de todos os que o escutassem, e
que fosse amplamente compreendido em suas intenções, mas por enquanto,
na Terra, o plantio é ainda difícil e as colheitas não são generosas.
Há muitas criaturas intransigentes e rigorosas que não entendem,
impõem; não ensinam, pregam; não amam, manipulam; não respeitam,
criticam; e por não usarem de sinceridade é que fazem o gênero de “suposta
santidade”.
Portanto, se não formos bem acolhidos nos labores que
desempenhamos na Seara de Jesus, silenciemos sem qualquer “reação” aos
contratempos e aguardemos as providências das “Mãos Divinas”.
Nesse afã, prossigamos convictos de nosso ideal de amor, palmilhando,
entre as realizações porvindouras rumo ao final feliz, nosso próprio caminho,
cujo mapa está impresso em nosso coração.