Caridade divulgação

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Rabindranath Tagore

Rabindranath Tagore

 De todos os poetas, este é o que mais cativa meu coração. Prêmio Nobel de Literatura, dramaturgo e contista indiano, Tagore, como artesão de versos, assemelha-se aos gênios da música. Ao ler suas poesias,  experimento a mesma estesia que alcanço ao ouvir  Chopin, Beethoveen. Hoje quero homenageá-lo, compartilhando com você, leitor, alguns de seus versos que me são mais caros.

FLOR-DE-LÓTUS

No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração. 

Comovem-me esses versos, porque fazem lembrar de uma atitude recorrente. Aqui e acolá nos deparamos com uma sensação de saudade, de angústia existencial. Esperamos que algo surja d'além para nos completar, projetamos nas coisas e nas pessoas, nas situações a paz desejada. Todavia, a flor de que sentimos falta, está bem perto de nós, é nossa. Quero dizer, não há o que vai chegar, mas a semeadura íntima que a faz desabrochar, quando nos dulcificamos. Alcançado este estágio, ela abre suas pétalas  e o  vento esparse seu perfume para além de nós, alegrando a vida daqueles que caminham conosco.


AMOR PACÍFICO E FECUNDO!

Não quero amor que não saiba dominar-se,
  desse, como vinho espumante, que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.
Dá-me esse amor fresco e puro como a tua chuva,
 
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até o centro da vida,
 
e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!
Amor pacífico e fecundo. Quantas noites ainda vivenciaremos, aprisionados em nosso sortilégios, porque ainda não conquistamos este amor que " penetra o centro da vida" e que "conserva tranquilo o coração"? Como crianças existenciais que somos, nossa forma de amar ainda é  marcada pelos caprichos do ego, pelo orgulho.
Apegados demasiadamente ao ego, cultivamos sentimentos ilusórios sobre nós mesmos e sobre outrem, julgando amar o que não se sustenta, o que " se perde no instante" e se esvai como bolhas numa taça de champagne. 
Mas a roda da vida gira, nos convidando à reflexão de nossas escolhas, a repensar nossos apegos.Cada experiência, seja de alegria ou de desilusão, preenche o cesto de nossos saberes. 

A Prisão do Orgulho  

Choro, metido na masmorra
do meu nome.
Dia após dia, levanto, sem descanso,
este muro à minha volta;
e à medida que se ergue no céu,
esconde-se em negra sombra
o meu ser verdadeiro.

Este belo muro
é o meu orgulho,
que eu retoco com cal e areia
para evitar a mais leve fenda.

E com este cuidado todo,
perco de vista
o meu ser verdadeiro.
Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões
 
Das chagas da alma, o orgulho talvez seja das mais  insidiosas. É interessante porque na base desse sentimento está uma mais valia claudicante. O orgulhoso, na verdade,  é frágil em si mesmo, não se ama. Os muros que está sempre construindo diz respeito à sensação que cultiva de que não é amado, de que as outras pessoas desejam ocupar-lhe o lugar, tomar -lhe algo. Estrutura psíquica frágil,  o orgulhoso não agrega, não compartilha, não se apraz com as vitórias dos que compartilham a existência com ele. Agrega sim, apenas com quem é acorde de suas convicções , ou melhor, equívocos. Centrado no ego infantilizado, não conhecedor de si mesmo, possui uma forma de agir competitiva e  não é capaz de ver o outro, a dimensão dos outros. 
É muito difícil conviver com pessoas assim. Todavia, solitário e aprisionado em seus muros psíquicos,  o orgulhoso é merecedor de profunda compaixão, pois passará ainda por grandes infortúnios, até compreender que só por meio da interação com o próximo, desapegado de suas construções mentais desalinhadas, poderá ser feliz plenamente. 
Deverá fazer, depois de  aceitar dobrar-se ao código da vida, o caminho do autoconhecimento, a fim de dar conta  de que o outro, seja quem for, é  seu irmão.
E neste dia, que será festa, seus muros  internos ruirão e permitirão a entrada da alegria que não passa.

Legendas do Obreiro da Verdade (Emmanuel)

·  Compreender que as necessidades e as esperanças dos outros são fundamentalmente iguais às nossas.

·  Auxiliar sem exigir que o beneficiado nos tome as ideias.
·  Reconhecer que a Divina Providência possui estradas inúmeras para socorrer as criaturas e iluminá-las.
·  Aprender a tolerar com paciência as pequenas humilhações, a fim de prestar os grandes testemunhos de sacrifício pessoal que a Causa da Verdade lhe reclamará possivelmente algum dia.
·  Esquecer-se pela obra que realiza.
·  Guiar-se pela misericórdia e não pela crítica.
·  Abençoar sem reprovar.
·  Construir ou reconstruir, sem ofender ou condenar.
·  Trabalhar sempre sem o propósito de ser ou parecer o maior ou o melhor ante os demais.
·  Cultivar ilimitadamente a cooperação e a caridade.
·  Coibir-se de irritação e de azedume.
·  Agir sem criar problemas.
·  Observar que sem a disciplina individual no campo do bem, a prática do bem se faz impossível.
·  Respeitar a personalidade dos companheiros.
·  Encontrar ocasião para atender à bênção da prece.
·  Deter-se nas qualidades nobres e olvidar as prováveis deficiências do próximo.
·  Valorizar o esforço alheio.
·  Nunca perder tempo.
·  Apagar inimizades ou discórdias através da desculpa fraterna e do serviço constante que devemos uns aos outros.
·  Criar oportunidades de trabalho para si, ajudando aos outros no sentido de descobrirem as oportunidades de trabalho que lhes digam respeito à capacidade e às possibilidades de realização, conservando em tudo a certeza inalterável de que toda pessoa é importante na edificação do Reino de Deus.

Indulgência Permanente

    Escasseia, cada vez mais, no comportamento humano, a indulgência.

    Relevante para o êxito da criatura em si mesma e em relação ao próximo, o pragmatismo negativo dos interesses imediatos vem, a pouco e pouco, desacreditando-a, deixando-a à margem.

    Sem a indulgência no lar, diante das atitudes infelizes dos familiares ou em referência aos seus equívocos, instala-se a malquerença; na oficina de atividades comerciais, produz a desconfiança; no trato social propicia o desconforto moral e responde pelo competição destrutiva.. .

    Tentando substituí-la, as criaturas imprevidentes colocam nos lábios a mordacidade no trato com o semelhante, a falsa superioridade, a ofensa freqüente, a hipocrisia em arremedos de tolerância.

    indulgência para com as faltas alheias é perfeita compreensão da própria fragilidade, a refletir-se no erro de outrem, entendendo que todos necessitam de oportunidade para recuperar-se, e facultando-a sem assumir rígido comportamento de censor ou injustificável postura de benfeitor.

    indulgência é um sentimento de humanidade que vige em todas as pessoas, aguardando desdobramento e vitalidade que somente o esforço de cada qual logra realizar.

    É calma e natural, fraterna e gentil, brotando como linfa cristalina alcance do sedento.

    Generosa, não guarda qualquer ressentimento, olvidando as ofensas a benefício do próprio agressor.

    indulgência é um ato de amor que se expande e de caridade que se realiza.

    Mede-se a conquista moral de um homem pelo grau de indulgência que possui em relação aos limites e erros alheios.

    Ninguém que jornadeie, no mundo, sem errar e que, por sua vez, não necessite da indulgência daqueles a quem magoa ou contra os quais se levanta.

    indulgência pacifica o infrator, auxiliando-o a crescer em espírito e abre áreas de simpatia naquele que a proporciona.
    Virtude do sentimento, a indulgência revela sabedoria da razão Agredido pela ignorância do poviléu, ou pela astúcia farisaica, ou pela covardia dos amigos, ou pela pusilanimidade de Pilatos, Jesus foi indulgente para com todos, não obstante jamais houvesse recebido ou necessitasse da indulgência de quem quer que fosse.

    Lecionando o amor, toda a Sua vida é um hino à indulgência e uma oportunidade de redenção ao equivocado.

    Sê, pois, tu também, indulgente em relação ao teu próximo, quão necessitado te encontras da indulgência dos outros assim como da Vida.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

TELHADO DE VIDRO - por Richard Simonetti


Em uma de suas viagens a Jerusalém (João, 8:1-11) Jesus compareceu ao Templo. Transmitia suas lições a expressivo grupo de ouvintes, quando surgiram alguns escribas e fariseus. Apresentaram uma mulher, explicando: 
– Mestre, esta mulher foi surpreendida em adultério. Moisés ordenou-nos na Lei que seja apedrejada. Tu, pois, o que dizes?
Grave acusação, com base em dois dispositivos da Lei Mosaica:
Em Levítico (20:10): Se um homem cometer adultério com a mulher de seu próximo, ambos, o adúltero e a adúltera, certamente serão mortos.
Em Deuteronômio (22:22): Se um homem for achado deitado com uma mulher casada, ambos serão mortos…
A legislação mosaica era draconiana. A execução, não raro, envolvia a lapidação. O condenado postava-se à frente do povo, que passava a atirar-lhe pedras, até sua morte. 
Povo machista, os rigores da Lei eram sempre para a mulher, em questões de fidelidade conjugal, tanto que nesta passagem somente ela estava sendo acusada, embora o flagrante, obviamente, envolvesse seu parceiro.
Havendo suspeita de adultério, por parte do marido, a esposa era submetida ao ordálio, o juízo de Deus. Era o seguinte:
Diante de um sacerdote, era obrigada a beber nauseante poção. Se lhe causasse intenso mal estar, com incontrolável regurgitação, era proclamada culpada e condenada ao apedrejamento. Se resistisse, seria absolvida.
A segunda hipótese dificilmente ocorria. A poção era forte, e ainda não existia o sonrisal.

Escribas e fariseus estavam mal intencionados. 
Submetendo a adúltera a Jesus, prepararam a armadilha perfeita, infalível. Qualquer que fosse sua resposta estaria comprometido, lembrando o adágio: Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
Se não a condenasse, estaria contestando Moisés. Falta grave. Seria apontado como traidor.
Se a condenasse, perderia a aura de bondade, o maior obstáculo à intenção de situá-lo como iconoclasta, destruidor do culto estabelecido.
O Mestre não se abalou. Sentado à maneira oriental, escrevia na areia, como se meditasse. Após momentos de eletrizante expectativa, pronunciou seu imorredouro ensinamento.
– Aquele dentre vós que está sem pecados, atire a primeira pedra.
Fosse outra pessoa e, imediatamente, escribas e fariseus, acompanhados pelo povo, desandariam a fazê-lo. Com Jesus era diferente. Dotado de incontestável autoridade espiritual, tinha pleno domínio da situação.
Pesado silêncio fez-se sentir. Ante a força moral daquele homem que devassava suas mazelas, ninguém se sentia autorizado a iniciar a execução.
Pouco a pouco, dispersou-se a multidão, começando pelos mais velhos, até chegar aos mais moços. Em breve, Jesus estava sozinho com a adúltera. Perguntou-lhe, então:
– Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?
– Ninguém, senhor.
– Nem eu tampouco te condeno. Vai e não peques mais.
Nesta passagem vemos uma vez mais a extraordinária lucidez de Jesus, ágil no raciocínio, a confundir seus opositores, e ainda aproveita o ensejo para ensinamento basilar:
Ninguém é suficientemente puro para habilitar-se a julgar as impurezas alheias.
Essa ideia é marcante no ensinamento cristão. Jesus situa como hipócritas os que não enxergam lascas de madeira em seus olhos e se preocupam com meros ciscos em olhos alheios.
Observam falhas mínimas no comportamento dos outros. Não encaram gritantes defeitos em si mesmos.
Há em relação ao assunto curiosa situação: Vemos nos outros algo do que somos.
O preconceituoso presume-se discriminado.
O maledicente imagina maldades.
O malicioso fantasia segundas intenções.
Projetamos no comportamento alheio algo de nossas próprias mazelas. Assim, o mal está em nós mesmos.
Quem estuda as obras de André Luiz percebe claramente que os Espíritos orientadores jamais usam adjetivos depreciativos.
Não dizem:
– Fulano é um cafajeste, um vagabundo, um pervertido, um mau caráter, um criminoso, um monstro…
Veem o irmão em desvio, o companheiro necessitado de ajuda, o enfermo que precisa de tratamento…
Consideram que todo julgamento é assunto para a Justiça Divina. Só Deus conhece todos os detalhes. 
Mesmo quando lidam com obsessores, tratam de socorrê-los sem críticas, situando-os como irmãos em desajuste.
Faz sentido! 
Somos todos filhos de Deus. Fomos criados para o Bem. O mal em nós é apenas um desvio de rota, um equívoco, uma doença que deve ser tratada.

A fórmula para essa visão tem dois componentes básicos:
A intransigência e a indulgência.
Pode parecer tolice. Afinal, são atitudes antagônicas.
Mas é simples:
Devemos ser intransigentes conosco.
Vigiar atentamente nossas ações; não perdoar nossos deslizes; criticar nossas faltas, dispondo-nos ao esforço permanente de renovação. É o despertar da consciência.
Devemos ser indulgentes com os outros.
Evitar o julgamento, a crítica e as más palavras; respeitar o próximo, suas opções de vida, sua maneira de ser.
É o despertar do coração.
Quando aplicamos essa orientação, ocorre algo muito interessante. Quanto mais intransigentes conosco, mais indulgentes somos com o próximo, exercitando o princípio fundamental: Não podemos atirar pedras em telhados alheios, porquanto o n
osso é d
e vidro, muito frágil.e vidro, muito frágil.