Rabindranath Tagore
De todos os poetas, este é o que mais cativa meu coração. Prêmio Nobel de Literatura, dramaturgo e contista indiano, Tagore, como artesão de versos, assemelha-se aos gênios da música. Ao ler suas poesias, experimento a mesma estesia que alcanço ao ouvir Chopin, Beethoveen. Hoje quero homenageá-lo, compartilhando com você, leitor, alguns de seus versos que me são mais caros.
FLOR-DE-LÓTUS
No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração.
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração.
Comovem-me esses versos, porque fazem lembrar de uma atitude recorrente. Aqui e acolá nos deparamos com uma sensação de saudade, de angústia existencial. Esperamos que algo surja d'além para nos completar, projetamos nas coisas e nas pessoas, nas situações a paz desejada. Todavia, a flor de que sentimos falta, está bem perto de nós, é nossa. Quero dizer, não há o que vai chegar, mas a semeadura íntima que a faz desabrochar, quando nos dulcificamos. Alcançado este estágio, ela abre suas pétalas e o vento esparse seu perfume para além de nós, alegrando a vida daqueles que caminham conosco.
AMOR PACÍFICO E FECUNDO!
Não quero amor que não saiba dominar-se, desse, como vinho espumante, que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.
Dá-me esse amor fresco e puro como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até o centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!
Não quero amor que não saiba dominar-se, desse, como vinho espumante, que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.
Dá-me esse amor fresco e puro como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até o centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até os ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!
Apegados demasiadamente ao ego, cultivamos sentimentos ilusórios sobre nós mesmos e sobre outrem, julgando amar o que não se sustenta, o que " se perde no instante" e se esvai como bolhas numa taça de champagne.
Mas a roda da vida gira, nos convidando à reflexão de nossas escolhas, a repensar nossos apegos.Cada experiência, seja de alegria ou de desilusão, preenche o cesto de nossos saberes.
A Prisão do Orgulho
do meu nome.
Dia após dia, levanto, sem descanso,
este muro à minha volta;
e à medida que se ergue no céu,
esconde-se em negra sombra
o meu ser verdadeiro.
Este belo muro
é o meu orgulho,
que eu retoco com cal e areia
para evitar a mais leve fenda.
E com este cuidado todo,
perco de vista
o meu ser verdadeiro.
Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões
Das chagas da alma, o orgulho talvez seja das mais insidiosas. É interessante porque na base desse sentimento está uma mais valia claudicante. O orgulhoso, na verdade, é frágil em si mesmo, não se ama. Os muros que está sempre construindo diz respeito à sensação que cultiva de que não é amado, de que as outras pessoas desejam ocupar-lhe o lugar, tomar -lhe algo. Estrutura psíquica frágil, o orgulhoso não agrega, não compartilha, não se apraz com as vitórias dos que compartilham a existência com ele. Agrega sim, apenas com quem é acorde de suas convicções , ou melhor, equívocos. Centrado no ego infantilizado, não conhecedor de si mesmo, possui uma forma de agir competitiva e não é capaz de ver o outro, a dimensão dos outros.
É muito difícil conviver com pessoas assim. Todavia, solitário e aprisionado em seus muros psíquicos, o orgulhoso é merecedor de profunda compaixão, pois passará ainda por grandes infortúnios, até compreender que só por meio da interação com o próximo, desapegado de suas construções mentais desalinhadas, poderá ser feliz plenamente.
Deverá fazer, depois de aceitar dobrar-se ao código da vida, o caminho do autoconhecimento, a fim de dar conta de que o outro, seja quem for, é seu irmão.
E neste dia, que será festa, seus muros internos ruirão e permitirão a entrada da alegria que não passa.
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